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ou a autonomia da personalidade
Rasgou-se por dentro num ápice.
Bastou que ela lhe tivesse dito que o Verão acabara.
Olhou-a nos olhos à espera de uma risada metálica, tão típica dela se o desafiava para qualquer coisa, no mínimo, libidinosa.
Olhou-a fixamente.
Sério.
Expectante.
Ela não se riu.
Sorriu simplesmente.
E foi esse sorriso que lhe alavancou uma dor imensa no peito.
Aquelas dores que magoam mesmo, que nos dilaceram de uma ponta à outra, que nos trazem automaticamente para uma realidade amorfa e doentia.
Baixou os braços e inconscientemente os seus ombros descaíram. Toda uma postura se transformou.
- É só isso? É só isso que tens para me dizer?
E olhou-a uma vez mais para dentro daquele azul que são a sua alma, aquela essência brotante de uma personalidade atrevida, fascinante e enlouquecedora.
Enlouquecera no meio das suas coxas, entre beijos delirantes e suspiros lânguidos. Fugira-lhe a razão de cada vez que ela lhe suspirava ofegante frases tiradas de filmes ou de livros que entretanto lera.
Enlouquecia agora com a renúncia a que tinha sido exposto,que o diminuía de tamanho e que o matava devagarinho à medida que os minutos passavam.
- O Verão acabou meu caro. E com ele a minha disponibilidade para amar.
Mais um título de filme atirado à queima-roupa.
Na verdade, ela não seria mais que um rebuscar de frases feitas, um reciclar constante de pequenos clichés, encaixados na perfeição na altura adequada.
Na verdade ele sabia que nada daquilo lhe interessava para nada.
Sentia-se sim, esmagado pela surpresa da decisão.
Arrancou-a do banco e encostou-a à parede. Rasgou-lhe a roupa e entrou nela devagar, sem pressa reparando que ela não contestava e se deixava ir. Fez dela o que queria e,
por fim,
beijou-a na testa
- O Verão acabou minha querida. Jamais te esquecerei.