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ou a autonomia da personalidade
Vieste-me trazido pelo vento nem sei bem onde foste apanhado. Trazias toda a esperança das pessoas ventosas, aquelas para quem qualquer decisão é fácil e tudo tem a sua devida importância. Agradaste-me tanto quando te vi que pensei pela primeira vez que serias para sempre qualquer coisa importante para mim. Acertei. Certinho tanto como quando falámos da tristeza e da chuva. Achei que esse brilho não ia morrer nunca em ti mas também achei que era esse brilho que me ia salvar duma neurose crónica. Quando percebi que nem isso me valeria chorei durante três dias seguidos. Deste-me sopa quente e cantaste para me acalmar. Varreste naquelas noites toda a angústia que me preocupava. Valeste-me tanto que nunca mais deixei de pensar em ti. Hoje sou mais forte porque me trouxeste vento. Mas com ele vieram as intempéries, os ciclones e os furacões. Vieram as tempestades e as descargas emocionais. Vieram as perturbações atmosféricas e as desvantagens de se querer ser livre. Trouxeste o vento contigo e o desassossego das temperaturas estivais. Precipitei-me de argúcia porque chuva é precipitação. Tornaste-me instável pela busca da harmonia. Encontrarei a paz quando me secarem por dentro de mim.