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ou a autonomia da personalidade
- Já pensaste na lógica dos gays não se assumirem?
- Huummm....diz?
- Os homossexuais.
- O que é que têm?
- Aqueles que nao se assumem. Já pensaste porquê?
- Se já pensei porquê? Claro que já pensei porquê. Porque não estão para levar com o preconceito na vidinha que, já deve ser bem complicada....
- Huummm... Eu acho que não é isso.
- O quê? A vidinha não ser complicada ou não quererem levar com o preconceito?
- Nenhum desses. Acho que tem a ver com a confirmação da coisa em si.
- Não tenho a certeza se percebi.
- É assim: um gajo é gay.
- Sim.
- Mas só ele é que sabe que o é.
- O.K..
- Quer dizer, ele e os gajos que ele tiver comido basicamente...
- Certo.
- Mas pode não ter a certeza disso.
- Disso o quê? Do ser gay, ou dos gajos que ele comeu não terem percebido?
- Ah que engraçadinho. Não, do serem gays.
- Então mas eles só se assumem quando têm a certeza que são gays. Por isso, acho eu, é que alguns demoram anos sem fim a tomarem essa decisão. Porque não entendem logo a cena.
- Sim,claro, isso é óbvio parece-me. Mas o que eu acho tem a ver com a confirmação propriamente dita. A confirmação é lixada.
- O.K. Não percebi. Explica lá.
- A confirmação é qualquer coisa de estanque, de definitivo e permanente. É uma confirmação, percebes?
- Sim, é essa mesmo a definição de confirmação.
- Portanto, quando alguém confirma uma coisa, essa coisa torna-se real e sincera. Passa a ser verdade.
- Ouve, é por isso que eles não se assumem, o.k.? Mas já toda a gente percebeu isso...
- Não, espera que ainda não acabei. Quando uma coisa se torna real e verdadeira...
- ...quando alguém se assume....
- ...cala-te pá! Deixa-me continuar. Quando alguma coisa se torna real e verdadeira, transforma-se na coisa em si!!!
- O quê????? Não estou a perceber nada.
- Tudo bem. Passo a explicar...
- Quando uma coisa se torna real, materializa-se e torna-se autónoma, independente.
- Mas estás a falar de que coisas?
- Sei lá, de uma ideia, de uma convicção, de um sentimento...
- Um sentimento? 'Pera lá mas discordo completamente. Quando eu odeio alguém, e odeio algumas pessoas podes bem crer nisso, esse meu sentimento não me abandona só porque é real para mim. Aliás quanto mais odeio alguém, mais me enerva qualquer coisinha que seja que tenha minimamente a ver com essa pessoa.
- Exacto! É exactamente isso! Quanto mais odeias e concretizas essa realidade - na prática está a odiar uma pessoa - esse ódio toma conta de ti e tu deixas de conseguir mandar no teu sentimento. Torna-se autónomo. Deixa de te pertencer.
- Ah! O.K.! Autónomo nesse sentido. Eu pensei que dizias autónomo tipo autómato, lol! Tipo desaparecia e ía-se embora.
- Também pode acontecer. Mas agora não é isso que interessa.
Portanto, desde o momento em que eles se assumem, a "condição" deles deixa de ser sua. Eles não controlam mais a situação. A situação é-lhes superior.
Eles tornam-se livres.
- Então mas a ideia não é as pessoas se assumirem para se libertarem?
- Teoricamente sim. Mas a liberdade, se passar a ser real, então também se torna autónoma. E nós, muito francamente, quase todos nós temos medo, muito medo de tanta autonomia...